quarta-feira, 4 de abril de 2018

A semente e o gato

O vento que soprou forte na plantinha ressequida, 
Fez voar uma semente que caiu dentro dum prato,
Ali pequena ela se misturou com o resto de comida,
Por lá ficou não teve jeito, e virou refeição do gato. 

O gatinho logo veio e comeu o resto da comida, 
Mas ainda ficou com fome, precisou então caçar, 
Ele andou o dia inteiro na floresta tão comprida, 
Quando já entardecia foi um rato ele encontrar. 

Mas ali perto escondida estava outra predadora, 
Uma cobra venenosa, que ao roedor já perseguia, 
Enrolada em meio a moita, com fome devoradora, 
Preparando um bote certo para o rato ela seguia. 

O gato a pressentiu mas sabia que era mais esperto, 
Bastava apenas dois pulos, um pra pegar a comida, 
Outro pulo para cima, no galho da árvore ali de perto, 
Pulando antes da serpente evitaria assim a mordida. 

Mas já é chegada a noite, que ao dia assim sucede, 
O belo sol se deita nas tardes, a hora da Ave Maria, 
Vem depois a escuridão, que o claro sempre precede, 
Canta triste o Uirapuru, então Rasga Mortalha pia. 

A Coruja vai rindo às avessas na tenebrosa escuridão, 
Morceguinho guincha contando coisas que só ele sabe, 
Que só enxerga no escuro quem tem muito boa visão, 
Pois muita coisa acontece onde a explicação não cabe, 

Deu o gato então seu salto, do que um jabe* mais veloz, 
Um galho caiu de cima prendendo ali os dois bichinhos, 
Quando a serpente deu seu o bote tudo se tornou atroz, 
Nessa hora, que acidente, errou o rato picou o gatinho. 

Gatinho ficou preso debaixo do galho que ali caiu; 
Rato tentou escapar, mas foi pego pela cruel cobra, 
Que o devorou sozinha, depois muitas dores sentiu; 
O homem que pôs veneno pro rato comer de sobra. 

E o rato envenenado matou sem querer a serpente; 
O gatinho ensanguentado morreu tentando escapar; 
E de dentro de seu corpo veio um milagre aparente, 
A semente que ele comeu antes, começou a germinar. 

E o homem que depois foi ver tudo que aconteceu, 
Contou aos que escutavam que a víbora maligna, 
A serpente a cruel cobra que ao gatinho mordeu, 
Atraiu o gato ao mato pra caçar o rato pra indigna. 

Assim como alma do gato era branca alva e pura, 
O sangue de seu corpinho era vermelho de fato, 
A plantinha que cresceu: espinhosa e folha escura, 
Saiu do lugar que estava o seu corpo putrefato. 

E que Deus então levou a alma do felino aos céus. 
Dando de presente ao homem uma flor muito bonita, 
Que aqueles que passassem naquela floresta aos léus, 
Se encontrasse o lugar que o corpinho do gato habita. 

Veria onde o gato morreu, bela planta que ali cresceu, 
Era flor bem diferente de pétalas brancas no centro, 
E na parte de fora delas o escuro vermelho sucedeu, 
Uma rosa de duas cores rubra fora, alva por dentro.




Autoria de Nick, 2006


* Jabe = S.m. PUGILISMO cada um dos golpes diretos, rápidos, que o pugilista desfere contra a cabeça do adversário, a fim de minar-lhe as forças;
• ETIM ing. jab 'acto de empurrar, socar, esmurrar; espécie de golpe no boxe'

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