quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Poemas de Forma Fixa


Os poemas de formas fixas são poesias do gênero lírico. Eles seguem sempre a mesma regra segundo a quantidade de versos, estrofes e o esquema de rimas.


Tipos e Exemplos


Para compreender melhor esse conceito, segue abaixo os principais poemas de formas fixas e alguns exemplos:


Soneto


Um dos mais conhecidos poemas de formas fixas é o soneto. Foi criado no século XIV sendo composto por catorze versos, dos quais dois deles são quartetos (conjunto de quatro versos) e dois são tercetos (conjunto de três versos). Segue abaixo um exemplo do escritor Modernista Vinícius de Morais:

Não Comerei da Alface a Verde Pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: deem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.


Trova

Também chamada de “quadra” ou “quadrinha”, as trovas são poemas de uma estrofe que foram criados no século XIII. Representa uma poesia de quatro versos heptassílabos (com 7 sílabas poéticas) e que juntos formam uma estrofe. Segue abaixo uma trova do escritor parnasiano brasileiro Olavo Bilac:

“O amor que a teu lado levas
a que lugar te conduz,
que entras coberto de trevas
e sais coberto de luz?”





Vilancete

Surgido pela primeira vez no Cancioneiro Geral, segundo os aspectos etimológicos, “vilancete” diz respeito à “cantiguinha vilã”. Tal composição origina-se de um mote pequeno, sendo esse popular ou alheio, desenvolvendo depois nas coplas (estrofes) da glosa ou volta e se constituindo do metro tradicional, ou seja, aquele formado de cinco a sete sílabas. Destinando-se de forma específica ao canto, desapareceu no século XVIII, haja vista que os árcades e pré-românticos deixaram de cultivá-lo.

Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata1,
Cinta de fina escarlata2,
Sainho de chamalote3;
Traz a vasquinha de cote4,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado5
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

1. mãos de prata = mãos alvas
2. escarlata = tecido vermelho de lã
3. sainho = casaco curto
4. vasquinha de cote = saia com muitas pregas de uso diário
5. cabelos louros arrumado em tranças

Inferimos que o exemplo em estudo se constitui de um mote de três versos e de duas voltas de sete versos (redondilha maior).


Balada

Poema de forma fixa composto de três oitavas e uma quadra (ou quintilha), geralmente de versos octossílabos (oito sílabas poéticas). A balada surgiu no século XIV na França medieval. Segue abaixo um exemplo de balada do escritor medieval francês François Villon:

Balada das damas dos tempos idos

Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana; 
Eco, a imitar na água que mana 
de rio ou lago, a voz que a aflora, 
E de beleza sobre-humana? 
Mas onde estais, neves de outrora? 

E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana 
Que a Buridan mandou pôr fora 
Num saco ao Sena arremessado? 
Mas onde estais, neves de outrora? 

Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana, 
Queimada em Ruão? Nossa Senhora! 
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora? 

Príncipe, vede, o caso é urgente: 
Onde estão elas, vede-o agora; 
Que este refrão guardeis em mente: 
Onde estão as neves de outrora? 


Rondó

Criado na França medieval, o rondó é um poema de forma fixa composto de três estrofes totalizando treze versos, donde dois formam duas quadras, seguidas de uma quintilha. No entanto, devemos lembrar que ele pode surgir de maneira variada quanto a quantidade de versos e estrofes. Assim, há três tipos de Rondó: o rondó francês, o rondó dobrado e o rondó português.
Segue abaixo um exemplo do escritor brasileiro Manuel Bandeira, formado por cinco estrofes (23 versos: 4 quartetos e 1 sétima):

Rondó dos Cavalinhos

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda, 
E em minhalma — anoitecendo! 


Sextina

A sextina é um poema de forma fixa composto de seis estrofes de seis versos cada (sextilha) e uma estrofe de três versos (terceto). Segue abaixo um exemplo do escritor português do classicismo de Luís de Camões:

Foge-me, pouco a pouco, a curta vida,
Se por acaso é verdade que inda vivo;
Vai-se-me o breve tempo de entre os olhos;
Choro pelo passado; e, enquanto falo,
Se me passam os dias passo a passo. 
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena. 

Que maneira tão áspera de pena!
Pois nunca uma hora viu tão longa vida
Em que posso do mal mover-se um passo.
Que mais me monta ser morto que vivo?
Pera que choro, enfim? Pera que falo, 
Se lograr-me não pude de meus olhos? 

Ó fermosos gentis e claros olhos,
Cuja ausência me move a tanta pena
Quanta se não compreende enquanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
De vós me inda inflamasse o raio vivo, 
Por bem teria tudo quanto passo. 

Mas bem sei que primeiro o extremo passo
Me há-de vir a cerrar os tristes olhos,
Que amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena
Que escreverão de tão molesta vida 
O menos que passei, e o mais que falo. 

Oh! que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
Vejo tão triste género de vida
Que, se lhe não valerem tanto os olhos,
Não posso imaginar qual seja a pena 
Que traslade esta pena com que vivo. 

Na alma tenho contino um fogo vivo,
Que, se não respirasse no que falo,
Estaria já feita cinza a pena;
Mas, sobre a maior dor que sofro e passo
Me temperam as lágrimas dos olhos; 
Com que, fugindo, não se acaba a vida. 

Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
Vejo sem olhos, e sem língua falo;
E juntamente passo glória e pena.


Haicai


Poema de origem japonesa criado no século XVI, os haicais são formados por três versos, e seguem a estrutura abaixo:
Primeiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo) 

Segundo verso: apresenta 7 sílabas poéticas (heptassílabo) 
Terceiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo) 

Veja abaixo um exemplo do escritor brasileiro Afrânio Peixoto:

Opinião sobre Modas

“Observei um lírio:
De fato, nem Salomão
É tão bem vestido…”

Coletado em: Todamatéria.

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