quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Esperança

Povo! que fazes? desmaias

Sob o peso do sofrer?
Oh! nesse abismo não caias
Senão vê – tens de morrer:
O teu colo não se dobre,
Levanta essa alma que é nobre,
Tens, ó povo, um coração!
Ergue a fronte triunfante,
Ergue-a qual cedro gigante,
Não a rojes pelo chão!

Os teus irmãos sucumbiram?
Ao longe os viste expirar?
Não importa, – eles sorriram
De assim a vida exalar.
Era pela humanidade, –
Era pela liberdade:
Que lhes custava morrer?
Do céu te bradam: «esp'rança,
Irmãos, irmãos a bonança
Há-de um dia alvorecer!»

Povo! olha ainda espumante
O sangue desses heróis;
Olha as ruínas fumantes
Como sinistros faróis;
Contempla todo esse estrago,
Olha de prantos um lago,
Olha um pai órfão além,
Um amante aqui chorando,
Acolá um filho orando
Na campa de sua mãe!

Mil cadafalsos aos ares,
Repara, não vês erguer?
São teus irmãos que aos milhares,
Ai de ti! lá vão morrer!
Tu aos cruéis perdoavas,
A vida tu lhe ofertavas,
Que não tinhas mais que dar.
Eles querem tua morte...
Dá-lha, povo não te importe,
Que o teu sangue há-de medrar.

Mas chora teus irmãos, chora;
Quem é que o pranto retém?
Chora, sim, que escrava outrora
Já chorou Jerusalém:
Chora, sim, como chorava
O povo que suspirava
Pela mísera Sião,
Ou como na soledade
Suspirava de saudade
A corrente do Cedron.

Chora, mas em 'stragos tantos
Não apagues teu ardor;
Esgotaste sangue e prantos,
Não esgotes teu valor:
Recupera alento novo,
O lume da esp'rança, ó povo,
Não o deixes expirar;
Guarda-o vivo na tormenta,
Como a vestal que alimenta
O sacro fogo no altar!

Vossa aurora bonançosa,
Povos da terra, esperai!
Vós a vereis majestosa
Como os fogos do Sinai;
Vós a vereis radiante
Vós a vereis triunfante,
Qual no Gólgota brilhou,
Quando a toda a humanidade
Uma voz – fraternidade,
Lá duma cruz ressoou.

Um dia essa voz que encerra
O resgate universal,
Retumbará pela terra
Como a trombeta final...
Há-de ver-se o tenro infante
Sorrir à mãe nesse instante,
E ela unindo-o ao coração
Que há-de dizer com ternura:
«Filho, hás-de gozar ventura,
Que chegou a redenção!»

Povos, povos, esse dia
Será um dia sem par:
A campa que vos cobria
Se há-de então despedaçar;
As nações hão-de enlaçar-se;
Os homens hão-de sentar-se
Ao banquete fraternal,
E o céu olhando o mundo
Há-de em silêncio profundo
Ver o abraço universal.

Nesse dia tão formoso,
Astros! mostrai-vos sem véus!
E tu, ó mar proceloso,
Suspende teus escarcéus:
Terra, cobre-te de gala,
Os teus perfumes exala!
Povos da terra, folgai!
E entre mil nuvens d'incenso,
Um hino geral e imenso,
À liberdade entoai!


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