quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Papagaio do bico dourado

PAPAGAIO DO BICO DOURADO:
Desconheço a autoria



Parte I - O Reino



O nome papagaio do bico dourado não surgiu sem mais nem menos, esse papagaio famoso existiu, vocês podem crer.

Foi isso na papagaiolândia, o país dos papagaios.

Nessa época os papagaios viviam felicíssimos, porque eram independentes e se governavam a si próprios sob a direção de um governo regular e magnânimo. Ninguém os incomodava e eles tampouco procuravam hostilizar os outros povos.

A família real era de uma origem privilegiada, do mais alto grã-finismo e o herdeiro do trono nascia sempre com o bico dourado, de ouro puro, sim, e não simplesmente dourado, como se dizia em geral. Designação popular que passou a posteridade.

Sua Majestade era benevolente e democrática, não se importando que os seus súditos proclamassem dourado, ou de ouro, o seu real bico e por isso não o metia nessas ninharias que alem do mais não afetavam o seu poder e o valor de tão importante apêndice...

Quando nascia o herdeiro, isto é, o primeiro filho dos reis, Sua Alteza Real era logo apresentado aos verdes súditos e a alegria era imensa quando ao sol brilhava o biquinho do nascituro, afirmando que era ele em verdade o futuro rei.

Todos diziam:
– SALVE SUA ALTEZA REAL!
E um vasto SALVEE! Ecoava por toda a Papagaiolândia, numa comunidade espontânea e cordial.


Parte II - O Casamento do Novo Rei

Naquele ano remoto, com a morte de Sua Majestade Papagaio Real M. X, o jovem soberano que subira ao poder com o título de Sua Majestade Papagaio Real M. XI, para não quebrar a numeração tradicional, andava triste.

É que, apesar de belo e desejado pelas mais becas e prendadas princesas, não desejava casar-se. E aquela obrigação, e as súplicas de seu povo, o tornaram sorumbático e infeliz.

Não queria casar! Respondia aos seus companheiros, porque não tinha vocação. Era boêmio e amava a liberdade, e por isso achava o casamento muito mau e cheio de obrigações mais cacetes que os discursos da coroa, que o davam já feitos e ele os despejava conscientemente na abertura do parlamento.

E Papagaiolândia, com a teimosia do jovem rei, vivia apreensiva.

Os sábios do reino formam incumbidos de tratar do caso, investigando qual o motivo que levava o árdego soberano a não procurar esposa, apesar das razões apresentadas, quando tantas princesas poderiam faze-lo feliz, pela continuação da espécie real e da grandeza do próprio país. Além disso, com o casamento somente, a previsão da bruxa Caturrita do Oco do Pau não se realizaria.

– E qual é a predição da Bruxa? Indagavam todos ansiosos por notícias tranqüilizadoras e positivas.

E o mestre Periquito do Papo Amarelo, uma das personalidades méis vem informadas do reino, ia esclarecendo de grupo em grupo, até que todos ficassem devidamente cientificados, que não havia o rádio naqueles tempos pra fazer o servicinho:

– Não sabem? Pois o resultado dessa teima será a derrocada do nosso poder como nação organizada, e, além do mais, o desaparecimento da espécie!

– Cruzes! Diziam todos. Mas é preciso evitar-se tamanha catástrofe! Cáspite!


Parte III - A Mais Terrível Ameaça

A ameaça era geral.
E só por causa de um simples capricho, de uma teima, que é uma qualidade tão feia, quando se firma num real princípio.

Papagaiolândia estava mesmo condenada a desaparecer da face da terra pela extinção de seu povo, com já sucedera com os Megatérios, Dinossauros, Ictiossauros e outros animais antediluvianos.

O reino vivia, assim, sob o peso da maior e mais terrível das calamidades.

Os sábios já não dormiam, sempre reunidos pra ver se descobriam um modo fácil, uma saída capaz de resolver tão intrincada situação. Não na encontraram, todavia, que o rei era teimoso e não cedia. Tirar-lhe o governo não era possível, pois os herdeiros do trono eram de categoria insubstituível e o bico dourado não aparecia com uma simples eleição popular e ainda menos com uma nomeação, como sucede hoje entre os homens.

Aquilo era sinal que vinha desde o começo do mundo.


Parte IV - Desfazer o Feitiço

Aquela teimosia do rei era feitiço, concluíram os maiorais, “e talvez”, cochichavam, “da bruxa Caturrita mesmo”, influindo na vontade do rei para a sua primeira predição ser vitoriosa.

Pediram então, à fada protetora do reino: Dona Perereca do Brejo, para resolver o caso.
Dona Perereca, ponderada e calma, disse que ia estudar o assunto que era de magna transcendência, e que voltassem treze dias depois, à meia-noite.

Durante esse tempo, Dona Perereca não descansou, não comeu nem um mosquito magro sequer, nem pregou os olhos um instante só.

A hora marcada, os papagaios conselheiros do reino, com suas togas vermelhas, de papos verdes, e afunilados chapéus, bateram à porta de Dona Perereca Do Brejo, na Mata dos Suspiros Perdidos.

Dona Perereca veio em pessoa receber os ilustres visitantes.


Parte V - Pequena Solução

Reunidos na Sala das Feitiçarias, diante da Fogueira Misteriosa de Fogo Frio, que crepitava sem queimar, Dona Perereca, vestindo um manto cheio de sinais cabalísticos concentrou-se e falou:

– Nobres Conselheiros do Reino da Papagaiolândia! A consulta que me fizestes, eu a resolvi, ou seja, esclareci conseguindo muito pouco para o muito que desejava, porque, desgraçadamente, coisa alguma é possível fazer para obrigar o rei a se casar...

– Papagaiolândia –continuou Dona Perereca em tom soturno– Terá que desaparecer. E estava escrito que seu povo teria o mesmo destino, porque o encantamento só poderia ser quebrado com o casamento do rei, e e este jamais se casará, porque, por inspiração da bruxa Caturrita, fez essa declaração em publicamente, e , como sabeis, palavra de rei não volta atrás. Entretanto, para evitar essa tremenda catástrofe, eu consegui que, no fim do prazo dado pela bruxa Caturrita do Oco do Pau, os papagaios não pereçam nem percam o uso da palavra.

Os conselheiros respiraram aliviados com a boa nova.

– Não obstante, –prossegui a Dona Perereca, sempre no seu ar de mofo concentrado– Para isso conseguir o meu bondoso protetor, o gênio Pirilampo Azul, teve que acertar outras condições impostas pelo Supremo Chefe dos Gênios e fadas, a inconfundível Cobra do Mar, que para não quebrar o princípio de respeito que deve ser mantido no Reino da Magia e não desconsiderar a bruxa Caturrita, sentenciou que, embora desfeito o Reino da Papagaiolândia, quando o correr a morte doe Sua Majestade o Papagaio do Bico Dourado, os seus habitantes continuarão vivendo uma vida longa entre os que mais viverem, que é a Senhora do Tempo, porém, sem o dom do raciocínio. Falarão, é verdade, mas só pra repetir o que ouvirem.


Parte VI e Final - Reino, Que Reino?

Todos saíram cabisbaixos, diante da inexorável sentença.

E foi o que realmente sucedeu, quando longos anos depois, ocorreu a morte do teimoso Papagaio do Bico Dourado M. XI, último de sua Real estirpe.

Assim quando hoje, os papagaios ouvem, dizem e repetem a frase – “Papagaio do Bico Dourado” – estão longe de compreenderem toda a sua significação e grandeza, mas são felizes, porque não sofrem a dor de um bem perdido, nem de recordar épocas remotas, fatos queridos, que é das maiores porque passa a humanidade.

Repetem o que aprendem inconscientemente, como certos homens sem imaginação, que por isso mesmo são chamados papagaios. Mas os papagaios de hoje, não tendo a consciência do passado, desconhecem também o que seja esse outro sentimento que tanto amargura o coração do homem:

A Saudade.
São, por isso, Felizes, tanto quanto o eram no faustoso Reino da Papagaiolândia, no império pacífico e glorioso do Papagaio do Bico Dourado.


27/janeiro/2018 01h, 27 min (publicação), sendo:
12 anos, 4 meses e 9 dias após 18/setembro/2005 12h, 01 min (digitação)
17 anos, 8 meses e 10 dias após 17/maio/2000 (segunda cópia) 
29 anos, 5 meses e 17 dias após 10/agosto/1988 (primeira cópia)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Direitos Reservados:

Creative Commons License
Tanto Este, Quanto Este trabalhos são registrados sob uma Licença Creative Commons.. - Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Citar o nome do autor e o link para o site).

- Você não pode fazer uso comercial desta obra!

- Você não pode criar obras derivadas ou modificar o conteúdo de forma a distorcer o sentido das idéias divulgadas pelo autor.

Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.