Não quis nascer nesse mundo
Prova é que nasci chorando
Parece que adivinhava
O mal aqui me esperando
Desejei fazer o bem
Mas nisso o mal se gerou
Dei um pão a um mendigo
O coitado se engasgou
Fiz um tanque no sertão
Pra dar água ao flagelado
Um coitado caiu dentro
Logo morreu afogado
Dei de presente uma faca
A um amigo de mão cheia
Ele fez um homicídio
Deu os ossos na cadeia
Fui tirar um carrapato
Do focinho dum cachorro
Ele me tacou os dentes
Dessa vez eu quase morro
A um bonito papagaio
Eu disse: "Adeus minha rosa"
Uma dona, desse nome
Mandou me dar uma grosa*
Mamei o leite da mãe
Ela me deu porque quis
Porém ainda hoje alega*
O favor que a ela fiz
Fui chorar por um amigo
Que tinha a perna esticada
A viúva dele disse:
"Ô cara feia danada!"
Pra matar a minha fome
Já furtei uma galinha
O padre deu-me de pena
As penas que a mesma tinha
Dei um ramalhete de flores
A jovem de lindo porte
Ela me deu uma "banana"*
Triste de quem não tem sorte
Bebi uma cuia d'água
No gabinete do centro
Depois da cuia vazia
Tinha um rato morto dentro
Um argueiro fui tirar
Do olho dum meu freguês
O argueiro caiu no meu
Fiquei cego de uma vez
Desconheço a autoria, quem souber seria grande obséquio indicar.
Alega: Afirma, Declara;
Banana: Nome de uma fruta, também popularmente 'surra';
Grosa: Sova, surra, castigo.
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